Não é fácil de se entender que a gente não pode tudo na vida. Mais difícil ainda é a gente compreender que não existe apenas um único jeito de viver. E a vida é isso aí, em cada fase é escola. Hora chega, depois ensina e, sempre, sempre, uma hora é hora de partir.
Partidas fazem parte da história de toda pessoa. Damos preferência para aquelas de futebol, mas não falo dos tempos repartidos em momentos de distração, mas escrevo da partida que faz em pedaços o coração. Essa é dolorosa, apresenta-se sempre como ladrão.
Aliás, dos ladrões, a morte parece ser um cruel. A morte, para nós, sempre se assemelha a um ladrão que entra pela janela e sai pela porta levando quem nós temos de mais preciso. Ela nos rouba a capacidade de fazermos mais por quem amamos. E na hora da falta, da partida, a pergunta: “Por que morremos?”
Toda moeda tem seus dois lados. Se por um lado a morte se apresenta assim tão cruel, ela possui, também, a sua face que nos afaga, e recorro a ela para viver os lutos que já passei e tantos outros que ainda hei de enfrentar. Fato é que a gente foca em tudo que a morte parece levar embora consigo.
Morrer está sempre na perspectiva de acabar, de fim. Só no olhar da fé morrer encontra o sentido de continuidade. E não, isso não é papo de quem acredita, mas é um modo de se olhar para as situações da vida.
“Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo que cai na terra não morre, ele continua só um grão de trigo; mas se morre, então produz muito fruto” Jo 12,24.
O sentido de continuidade que a fé nos permite ter exige de nós constantemente repetirmos: “se o grão de trigo cai na terra e não morre, ele continua só um grão de trigo…“-A morte não é um processo de descontinuidade, mas sim um processo de continuidade. A vida de quem parte é vida que segue em Deus e a nossa vida é vida que precisa seguir com Deus.
Um pouco mais a frente vai dizer Jesus:
“Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna” – João 12,25.
Não é que Ele esteja dizendo para não valorizarmos a vida, mas sim para darmos o devido valor para a vida. Afinal, quase sempre a gente liga vida ao que nela possuímos. O que faz uma vida valer apena não é o que adquirimos na história, mas sim o que nós nos tornamos no tempo. Quem sabe se tornar alguém bom, solidário e fraterno, este não vive apenas por um tempo, mas se eterniza na vida de quem o conheceu.
Sabe de uma coisa? Todas as vezes que quisemos prender as pessoas e situações em nossas mãos elas nos escaparam pelos dedos. E a gente sofre muito ao ver escorrer das mãos pessoas tão preciosas, mas, é preciso que se saiba que: tudo o que colocamos nas mãos de Deus, nós teremos para sempre. Pessoas e situações que colamos nas mãos de Deus, nas mãos de Deus estão.
Ah, sim! Já quase ia me esquecendo de responder a pergunta: “por que morremos?” É simples: morremos para continuar. Como semente que precisa morrer, ser plantada, para depois frutificar, assim é a vida. É morrer semente para nascer árvore frondosa.
Não tenha medo de seguir. A vida é feita pra continuar.